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Carta ao meu pai

  • Foto do escritor:  Bruna Sofia
    Bruna Sofia
  • 29 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de set. de 2020



Olá pai, sei que há muito devia de ter escrito esta carta e que provavelmente nem sequer a vais ler, mas aqui vai. A mesma não é pensada para te fazer um favor ao dizer-te tudo o que tenho vindo a sentir ao longo dos anos, mas principalmente para tirar um peso de cima dos meus ombros, pois com o decorrer dos anos cada vez tenho vindo a acumular mais todas as situações que têm vindo a acontecer até agora e hoje é o dia em que vou mandar tudo cá para fora. Em primeiro lugar e apesar de tudo, obrigada pai! Obrigada pelas vezes em que podias estar presente e estiveste. Obrigada por todas as lembranças que me deste enquanto tiveste oportunidade de as dar. Sim lembro-me de tudo aquilo que fazíamos juntos. Lembro-me bem do pai que foste e da filha que fui, mas infelizmente não é porque eu tenho boa memória, mas sim porque as lembranças que tenho foram muito poucas. Todas elas são escassas, comparadas com tudo aquilo que podíamos ter vivido e tu escolhes-te que assim o fosse. No meu coração existe um lugar reservado para ti, mas hoje posso dizer-te que nesse mesmo lugar sobra imenso espaço, porque são tão poucas as lembranças e os momentos que passei contigo, que posso contar pelos dedos, as coisas que me vêm à mente. Talvez as coisas que me lembro de quando tinha 7 ou 8 anos não me lembraria, porque o espaço que guardo com isso, seria ocupado por muitas outras coisas boas e mais importantes que podíamos ter feito e não fizemos até agora. Mas lá está, todas essas lembranças de que me lembro são tudo o que tenho de ti e tento guardá-las ao máximo, apesar de com o tempo elas irem desvanecendo cada vez mais a cada dia que passa.

Confesso que foi imensamente difícil crescer sem o meu pai, sabendo que o tinha algures por aí. Agradeço imenso à minha mãe, todo o esforço que fez por compensar a tua insubstituível presença. Agradeço-lhe todos os dias por ter dado dela o melhor que sabia e por ter tido a coragem de assumir sozinha o cargo que tu deixaste vazio.


Sabes, desde que me lembro que a mãe teve uma força enorme para conseguir arranjar uma resposta a todas as perguntas que me surgiram na cabeça ao longo destes anos e teve ainda mais uma coragem enorme em nunca me ter colocado contra aquele que devia de ser o meu pai. Como é que podes responder a uma criança, quando ela te pergunta o porquê de a teres abandonado ou simplesmente o porquê de tu nos teres trocado por outra família? Será que tu próprio me consegues responder a estas perguntas, que eu me fiz a vida inteira? Por acaso gostava imenso de saber qual seria a tua resposta.

Lamento pai, por todas as vezes que cheguei em casa com notas muito boas da escola e tu não estavas lá para me dar os parabéns. Lamento, por todos os aniversários que passei sem ti e que gostava que estivesses lá para celebrar ao meu lado, tal como a mãe sempre esteve. Lamento, por todas as vezes que caí e que quando era suposto ter lá o meu pai para me levantar do chão e tranquilizar-me, eu não tinha. Tantos foram os dias do pai que passei sozinha, a olhar para os meus colegas com os seus pais e eu ali impotente sem poder fazer nada. Esperei sempre por um "herói" que nunca chegou a aparecer. A mãe podia lá estar e tentar preencher o teu lugar , vezes e vezes sem conta, como o fez, mas nunca seria igual se fosses tu pai e isso já ninguém o pode mudar.


Queria tanto ter tido os teus conselhos, as tuas dicas, o teu carinho, mas isso nunca aconteceu e talvez por isso eu me tivesse tornado numa pessoa mais fria, em todos os assuntos que são referentes a ti. Com o tempo pensei que te conseguisse perdoar, tudo o que me fizeste passar até agora, mas chego à conclusão que seria incapaz de o fazer, depois de tudo o que me fizesses-te passar

Não escrevo esta carta para que te sintas bem ou mal, mas sim para eu me sentir bem comigo própria e em paz, coisa que nunca tive desde que nos deixaste.

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