Viver no bairro
- Bruna Sofia
- 19 de out. de 2021
- 2 min de leitura

Desde muito nova que sempre me debati sobre este assunto, com todas as pessoas que me conhecem e que sabem que moro num bairro, não social, mas problemático e acabo sempre por dizer e defender a minha ideia.
Os bairros não são aquilo que dizem e são as pessoas que nele moram que o fazem ser da forma que é. Existem sim bairros bons, uns menos bons, outros muito maus, ou outros apenas maus, mas talvez por vivermos toda a nossa vida nele, estejamos habituados a lidar com todas as pessoas de igual forma e não fazer diferença de ninguém, more lá ou que esteja apenas a visitar.
Quando digo onde moro, muitas pessoas me perguntam se o meu bairro é perigoso, se nunca me aconteceu nada aqui e a única coisa que tenho para responder, é que aqui é a minha casa, é onde me sinto refugiada de tudo e de todos e onde sou mais bem recebida.
No bairro aprendemos a defender-nos uns dos outros, aprendemos que o "ser diferente" é o nosso normal, aprendemos a brincar com tudo o que encontramos na rua e aprendemos desde muito cedo que a união do bairro por mais complicada que seja nunca se separa. Somos todos irmãos, porque nos tratamos como tal.
Ser criança e viver no bairro é das coisas mais libertadoras que pode existir. Saber que quando chegamos da escola é ir a correr para casa fazer os trabalhos e depois temos ordem de soltura até as luzes dos candeeiros da rua se ligarem (horas de jantar). Ainda me lembro quando a minha mãe me tinha de ir chamar a mim e ao meu irmão à rua, porque nós éramos uns despistados e nunca reparávamos que os candeeiros já estavam ligados, depois ela ralhava connosco e no dia a seguir tudo se voltava a repetir.
Crescer no bairro foi das melhores experiências de vida que tive e se me perguntassem se eu mudaria isso, a minha resposta seria sem pensar duas vezes, que não. Sabem porque? Porque as experiências que vivemos neles são para a vida e são elas que nos fazem ser alguém na vida. No bairro temos de aprender a lutar por aquilo que queremos, porque não o temos de mão beijada e são esse tipo de aprendizagem que nos faz ser quem somos hoje.
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